quinta-feira, 1 de maio de 2008

"Cidadezinha Qualquer"

Às vezes eu tenho a impressão de que algumas cidades estão fadadas a estagnação econômica e estrutural.
Parece que as pessoas que circulam viraram parte da paisagem..e são as mesmas de cinqüenta anos atrás. Elas não mudam, elas não se mudam, elas não querem mudar.

Talvez seja confortável pra elas passar pelas mesmas paredes, mesmo que estas estejam ficando esburacadas e feias..a prova de que ainda estão lá é o motivo pelo qual as pessoas continuam existindo. Enquanto as antigas paredes, estações, árvores e casas não ruírem em pó, ainda não é época de mudar.
E parece que tudo é feito em pró disso. Ninguém pensa grande. Todo mundo têm as mesmas idéias sempre. Abre um botequinho aqui..uma lojinha de bolo ali...

Afinal, a cidade foi planejada pra isso. É, não é?
Para esses cidadãos "old fashion", antiqüados, antigos, cheios das velhas e boas (?) maneiras.
Só aqui você vê um gatinho de rua sendo alimentado pelos moradores da rua em questão. Só aqui você vê gente andando de cavalo no meio da rua. Por aqui, as pessoas param pra olhar os soldadinhos do corpo de bombeiros marchando pela praça. Por aqui há praça! Praça como ponto de encontro. É como o shopping da cidade. As pessoas se encontram pra tomar sorvete, pra sentar juntas no banco da praça, fumar um cigarro, encontrar os amigos, andar de skate, ver os fiéis na missa, comprar pipoca, esperar a namorada sair do salão, encontrar o namorado, trazer as crianças pra brincar.
Perto das praças, as senhoras puxam as cadeiras até às calçadas e falam sobre a família, as compras, a casa, a vida dos outros.
E os eventos da cidade são nas praças. Os eventos religiosos, o dia da independência. As praças ficam lotadas e são os únicos dias do ano que se tem um pseudo-engarrafamento no trânsito.
Por aqui, não é possível andar sem cumprimentar ninguém. Todo mundo se conhece e tem aquela maldita cumplicidade. Todos sorriem, por uma questão de educação. E esperam que você sorria de volta. Então você fala com o tio das balas, o tio da parada de ônibus, o cara que trabalha na oficina, as cabelereiras, o dono da locadora de vídeo, a dona do gato que a sua gata cruzou, a moça do Pet Shop, a que trabalha na padaria, o que vende canjica..
Todos os dias, as mesmas coisas, desde que eu me entendo por gente morando aqui.
Sei lá, acho que deve proporcionar algum sentido de segurança. Saber que está tudo do mesmo jeito e tal. Parece que ninguém quer mudar nada e que o certo é assim mesmo. Novidades poderiam abalar a paz que reina sobre a cidade..
Não é que as pessoas estejam submetidas a coisas pequenas, elas gostam das coisas pequenas. Ser dono de uma gráficazinha, de uma lojinha de costuras. As outras necessidades ( se as têm ) são pras cidades grandes, vizinhas.

Quantas vezes eu não ouvi calada sobre "a filha revoltada do médico" que se tatuou inteira? "Que futuro tem uma garota dessa? Fazendo psicologia? Eu é que não iria me consultar com essa louca." Sobre a "devassa sapatão drogada" que morou aqui do lado. Todo mundo sabe da vida de todo mundo e todos ( ou quase todos ) prezam por uma boa reputação. A verdade é que mesmo sem querer saber, você acaba sabendo o que aconteceu na vida dos outros. As pessoas adoram falar, deve ser uma de suas ocupações, uma forma de lazer. Eu fiquei sabendo quando o vizinho da frente saiu de casa porque estava com outra mulher. Fiquei sabendo quando descobriram que o outro vizinho estava usando drogas. Fiquei sabendo quando o cachorro do outro morreu...e todas essas coisas inúteis.


"Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus."

Drummond.




Preciso dar o fora daqui.

Um comentário:

Vini DLuca disse...

simples, essa cidade também te deixa sufocada, join the team!
muito pequena em todos os sentidos -.-

bom texto! (y)