segunda-feira, 11 de agosto de 2008

"(....) a realidade é a febre do libertino, a taça na mão, a lascívia nos lábios, e a mulher seminua, trêmula e palpitante sobre os joelhos.

- Blasfêmia! e não crês em mais nada? teu ceticismo derribou todas as estátuas do teu templo, mesmo a de Deus?

- Deus! crer em Deus?! ... sim! como o grito íntimo o revela nas horas frias do medo, nas horas em que se tirita de susto e que a morte parece roçar úmida por nós! Na jangada do náufrago, no cadafalso, no deserto, sempre banhado de suor frio do terror que vem a crença em Deus! Crer nele como a utopia do bem absoluto, o sol da luz e do amor, muito bem! Mas, se entendeis por ele os ídolos que os homens ergueram banhados de sangue, e o fanatismo beija sua inanimação de mármore de há cinco mil anos...não creio nele!
- E os livros santos?
- Miséria! quando vierdes falar em poesia eu vos direi: aí há folhas pela natureza ardente daquela terra como em Homero as sonhou, como a humanidade inteira ajoelhada sobre os túmulos do passado nunca mais lembrará! Mas, quando me falarem em verdades religiosas, em visões santas, nos devarios daquele povo estúpido, eu vos direi: miséria! miséria! três vezes miséria! Tudo aquilo é falso: mentiram como as miragens do deserto! "


( Álvares de Azevedo )

Nenhum comentário: